Recomeço

Jasmine Malta

Jasmine Malta

Dez Coisas

Final de um ano, início de outro. O ciclo da vida em renovação. Avaliações, perspectivas, decisões. Vontade de fazer diferente, melhorar cada vez mais o que já está bom, e remodelar aquilo em desacordo. E vem o hábito das listas decimais. Faço as minhas, no limite ou fora dele.

O afastamento da sala de aula proporcionou uma capacidade produtiva maior ainda. Muitos textos foram escritos, análises realizadas, materiais publicados, desenhos concluídos, projetos gráficos elaborados, gravuras organizadas, e-mails descartados, rascunhos concluídos, cartas enviadas. O dia ficou mais cheio de ideias que foram materializadas no papel.

Morar em Natal trouxe uma experiência ímpar. Fiquei mais tempo com meus filhos, cuidei melhor da casa, tive bolo para as visitas, cozinhei coisas novas, queimei coisas antigas, desfrutei de um pouco da História do país, dirigi por avenidas largas, passei por poucos engarrafamentos, perdi o rumo algumas vezes, a árvores de luzes salvou, respirei o ar do Parque das Dunas, espirrei muito na praia, comi camarão até fartar, passeei em sebos, comprei mais livros, amei o sertão, acompanhei os meninos nas aulas de sanfona e de flauta, caminhei na areia, não vivi o b-r-o-bró.

Algumas coisas não farão falta. O mal hábito de não respeitar as filas, o fato dos motoristas não saberem a função da sinaleira, a mania de entabular conversa como se fosse o mais íntimo conhecido e ainda opinar sobre o não pedido, os atrasos, a falta de trabalhadores comprometidos, a política vergonhosa e corrupta, os escândalos no meio da rua por qualquer motivo, a chuva cotidiana que obrigava fechar as janelas em plena madrugada, a cara feia para quem não é da terrinha, os preços altos, a água com nitrato, as ruas sem calçamento, a cerveja quente e a comida fria.

Mas os amigos conquistados neste período são para toda a vida. Os professores do Programa de Pós-Graduação, os melhores orientadores, as melhores fontes. A escola das crianças, um porto seguro. Já a Medicina…Teresina resolve.

Foram muitos os livros lidos. Um merece olhares repetidos : “A Primavera do Dragão”, de Nelson Motta. Biografias estão entre as leituras mais queridas, e esta, é ímpar. Um dia só não bastou, a experiência deve ser outra vez desfrutada. Assim como as de Virginia Woolf e de Baudelaire.

Os livros não lidos já estão em fila, cada vez menor, para atravessarem a ponte do usufruto intelectual. Um deles, tem uma vida de preparação e coleta de dados para o pleno mergulho, treinado no espaço da UFRN. O preferido de Marilyn, a musa incompreendida e subestimada. Se não der certo, o volume de páginas pode servir como apoio aos mais “magrinhos”. Contudo, a intenção é que ele seja uma nova ferramenta para as aulas na UFPI. Esta, uma fonte de saudade provocada pela ausência dos alunos.

Os escritores que enviaram livros para serem analisados, podem ficar tranquilos, os comentários serão feitos e publicados. Estas dívidas, quitadas, serão mais uma fonte de gosto e uma renovação das relações amigáveis já estabelecidas.

O melhor de 2012 será ter Teresina todos os dias. Mesmo com as ruas apertadas, o trânsito absurdo, o calor anormal, alguns políticos duvidosos, a crescente falta de “verde” e o casario antigo sendo abruptamente destruído. Porém, a família está novamente reunida, os amigos ao alcance das mãos, os alunos nos encontros nas ruas, o banho de chuva é no quintal, o rio perto de casa, a caminhada é diária, a galinha e o carneiro são fartos, a paçoca é batida no pilão.

Independente da lista, ou da compartimentação laboral, uma coisa não será mudada : a paixão pelo Livro. Na militância, na vida profissional e nas atividades pessoais.

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Professora Mestra da Universidade Federal do Piauí, arte educadora e designer de interiores, membro do Colegiado de Livro,Leitura e Literatura/Conselho Nacional de Cuntura/MINC, organizadora do Salão do Livro do Piauí, Doutoranda em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.